depois de um longo tempo de inatividade – por puro descaso –, volto, em um novo ano, para lhes escrever mais sobre o sentido da vida, ou melhor, sobre a própria vida. aliás, feliz ano novo! espero que você tenha passado bem a virada de ano.
durante a virada, percebi o quanto é comum desejarmos um “feliz ano novo” sem, ao certo, refletirmos sobre o significado do que estamos expressando. o termo “feliz ano novo” é tão amplo e genérico que, muitas vezes, acaba perdendo força ou o significado, da mesma forma quando perguntamos para a outra pessoa se ela está bem, apenas por educação, porque, na verdade, não queremos saber e nem damos a mínima, se ela está bem mesmo.
em um grupo de amigos, alguém escreveu apenas “ano novo”. eu achei curioso e concordei, afinal, o “feliz” depende de muitos fatores. essa reflexão sobre o “estar feliz” se complementou com outra que me levou a pensar no que torna a vida digna de ser vivida. qual é, afinal, a essência de uma vida que vale a pena?
curiosamente, após definir o título deste texto, fui pesquisar sobre o tema e descobri um livro do professor Clóvis de Barros, com o nome idêntico, porém com valores completamente diferentes. achei interessante que, além do livro, há muitos materiais falando sobre uma vida que vale a pena.
intrigado li algumas resenhas, para entender um pouco do senso comum sobre o que é uma vida que vale a penas ser vivida. e confesso que discordei da maioria, especialmente do professor Clóvis. isso porque toda conclusão parte de um pressuposto, e o meu é completamente diferente da grande maioria dos conteudistas que li falando sobre o tema. vejamos…
uma vida bem vivida
num geral, muita gente diz que a vida deve ser “bem vivida”, porque “só se vive uma vez” – e com isso surgem os discursos imediatistas que exaltam a intensidade e o hoje, ignorando o amanhã. apesar de parecerem empolgantes, essas ideias são, no mínimo, superficiais, para não dizer tolas.
afinal, viver como se não houvesse amanhã não é apenas uma atitude arriscada, é também ingênua, pois o amanhã não nos pertence, mas isso não quer dizer que ele não chegará. não devemos viver focados no amanhã, pois isso gera ansiedade. entretanto, o fazer planos é um hábito de pessoas prudentes:
Cuide dos seus negócios lá fora, apronte a lavoura no campo e, depois, edifique a sua casa.
Provérbios 24:27
Os planos bem elaborados levam à fartura; mas o apressado sempre acaba na miséria.
Provérbios 21:5
“Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la?
Pois, se lançar o alicerce e não for capaz de terminá-la, todos os que a virem rirão dele,
dizendo: ‘Este homem começou a construir e não foi capaz de terminar’.
Lucas 14:28-30
a vida que vale a pena não é imediatista
viver como se não houvesse amanhã contradiz a própria ideia de responsabilidade. embora a filosofia contemporânea muitas vezes incentive o “carpe diem” (curta o momento), a Bíblia oferece uma visão mais equilibrada: viver o presente com propósito e o futuro com prudência. ela nos ensina que o hoje deve ser vivenciado com gratidão e diligência, mas sem perder de vista a eternidade.
isso mesmo que você leu, a eternidade! talvez você não acredite em eternidade, céu, inferno, etc. tudo bem, se não existirem, até faz um pouco mais de sentido o ‘’carpe diem’’, embora ainda me pareça tolo. mas se tudo isso existe, soa ainda mais estúpido viver como se o amanhã não existisse.
contrapondo o conceito de felicidade
na cultura popular, a felicidade é frequentemente tratada como o objetivo máximo da vida. mas, assim como escrevi no início deste texto, o “feliz” é subjetivo e depende de muitos fatores. Clóvis de Barros enfatiza a ideia de autenticidade e liberdade como chaves para a felicidade, mas é difícil falar de autenticidade em um mundo cheio de pessoas com problema de identidade; e de liberdade onde todos são escravos de si e de seus próprios pecados.
Deus aponta um caminho bem diferente:
“Alegrem-se sempre no Senhor; novamente direi: Alegrem-se!” (Filipenses 4:4).
o “alegrar-se no Senhor” transcende circunstâncias e sentimentos passageiros. é uma alegria enraizada em uma vida com propósito eterno, que encontra sentido na comunhão com Deus e na obediência aos Seus mandamentos.
a verdadeira felicidade está em viver conforme o propósito divino, e não em buscar prazeres momentâneos que frequentemente nos deixam vazios.
propósito: não somos o centro de tudo
outro ponto que me chamou atenção ao refletir sobre os conceitos contemporâneos de uma “vida bem vivida” foi a centralidade do ser humano. grande parte das ideias coloca a própria vontade e satisfação pessoal como o eixo em torno do qual gira a existência.
é o que chamo de a “síndrome dos Nicolau Copérnico egocêntricos”, que reinventaram a teoria heliocêntrica, para uma conclusão de que tudo gira em torno de si próprio e não mais do sol.
mas o Senhor nos lembra de que não somos o centro de tudo, e isso, longe de ser um problema, é libertador – muito libertador. afinal, quando vivemos para a glória de Deus, alcançamos o verdadeiro significado da nossa existência:
“Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus.”
1 Coríntios 10:31
essa perspectiva muda radicalmente a maneira como encaramos os desafios, as conquistas e até os fracassos.
a vida que vale a pena não se mede pelo quanto satisfazemos a nós mesmos, mas pelo quanto glorificamos a Deus em nossas escolhas, relacionamentos e vocações.
a eternidade como o objetivo final
Clóvis sugere que a vida deve ser vivida como uma obra de arte – um convite à autenticidade, beleza e criatividade. é um pensamento interessante, mas insuficiente quando se olha para a vida sob a luz das Escrituras. a Palavra de Deus nos chama a tratar a vida como uma peregrinação, não como uma obra concluída.
sua vida não tem fim em si mesma. e a morte também não será o fim dela.
Jesus nos alerta que a vida não termina com a morte, mas é seguida pelo julgamento (Hebreus 9:27). essa realidade muda o rumo da conversa. não se trata apenas de viver “bonito” ou “autêntico”, mas de viver em obediência e gratidão a Deus.
como Paulo escreve:
“Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia”
2 Timóteo 4:7-8
a vida que realmente vale a pena ser vivida é aquela que tem a eternidade como destino e o propósito de Deus como bússola.
então, ao refletir sobre o novo ano, sobre o que desejo ou busco, concluo que a vida ganha sentido não na busca egoísta pela felicidade, mas na entrega, no serviço e na vivência segundo a vontade de Deus.
que nossas palavras e ações sejam como sementes plantadas para a glória d’Ele. essa, sim, é uma vida que vale a pena ser vivida!
Deus abençoe.
até mais.